quinta-feira, 12 de março de 2009

Eyes of a tragedy...


Intitulo esse post com um verso da canção 3 libras do disco Mer de Noms do A perfect circle por que hoje ouvi essa canção e lembrei de uma época e de um contexto da minha vida em que ela se encaixou melhor do que muitas trilhas sonoras em muitos filmes por aí. Mas esse não é um blog pra se falar da minha vida, é um blog pra se falar de muitas coisas, principalmente de olhos (não, não sou oftalmologista). Sobre olhos de tragédia, além dos olhos furados de Édipo, o homem que era demais em sua sexualidade (teve filhos com sua mãe), demais em sua sabedoria (desvendou o enigma da Esfinge), demais em sua teimosia (quis continuar com o inquérito que revelaria seus crimes), e os olhos arregalados da Medusa, a górgone que transformava em pedra todo aquele que olhasse diretamente para ela, temos os olhos de Lâmia. Lâmia era filha de Poseidon e Líbia (a personificação do país) e rainha das terras da Líbia. Zeus, pra variar, se apaixona pela moça, de grande espírito e beleza (é notório que Zeus passava o rodo geral). Hera, a ciumenta (não é pra menos, convenhamos) esposa de Zeus, irritada com a situação, mas impotente de agir contra o marido, impõem um terrível destino a Lâmia. Rouba seus filhos, e a transforma em um monstro, metade mulher, metade serpente, e incute nela uma fome saciada somente pela carne de crianças, filhos felizes de mulheres que ela invejaria para sempre (Hera era má pra caralho!). Lâmia assassina várias crianças, inclusive dois de seus filhos. Para completar a maldição, Lâmia não podia fechar os olhos, onde a imagem de seus filhos sendo assassinados por ela se repetiam infinitamente. Para minimizar seu sofrimento Zeus concedeu a ela o poder de tirar seus olhos por um período de tempo. Com o tempo a lenda de Lâmia foi sendo resgatada por vários artistas e sendo adaptada em diversas histórias folclóricas pelo mundo afora. Na cultura helênica as "lâmias" eram espíritos que se prendiam a jovens e sugavam pouco a pouco seu sangue até que os mesmos perecessem. Uma das origens clássicas dos mitos sobre vampiro. Pope e Keats escreveram poemas sobre Lâmia, e a música Prodigal Son, do disco Killers do Iron Maiden, cita a persona em outro contexto. O não fechar os olhos às próprias atrocidades, o nunca esquecer, a vida como penitência cruel e eterna. Nas palavras de Horácio: "veria Lâmia, em suas visões, seus filhos devorar, para, no mesmo instante, à vida retornar?" Uma tragédia não se retira dos olhos, ainda que, como Lâmia, possamos retirá-los do rosto por alguns momentos.

2 comentários:

  1. Não quero Lâmia...
    Ainda que a dor seja maior,
    ainda que possa retirar meus olhos,
    ainda que meu corpo seja consumido
    e minha alma aprisionada
    pelos olhos da tragédia,
    Ainda que tenha visões de desespero e atrocidade...
    Quero que suportar o flagelo
    e ser rizoma...

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  2. E ainda que eu, criança de Lâmia,
    perdido na penumbra de uma aurora que nunca vem,
    procure o sol com os olhos e em meio a gritos os braços de minha mãe...
    ainda que eu, sublunar e lânguido como um cão pingando doença ou uma criança com fome, desenhe satanás em pedras mais antigas que o mundo e então adormeça...
    ainda assim,
    não quero Lâmia...nunca mais...

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